terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sensações...........

                                               "Não importa o quão ruim eu me sinta,
                                                              meu coração não para de bater e
                                                    meus olhos se abrem pela manhã."
                                            




^^

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Lágrima; lagrimas...



Em uma noite tranquila,
suave,
você chegou de mansinho,
com seu jeito todo especial de olhar,
sorriu,
olhou-me nos olhos,
pergutou se estava tudo bem.
Esse foi o começo de algo muito
especial e belo
que estava nascendo entre nós.
O meu coração,
bateu forte dentro do peito,
porque ele sabia que algo de muito especial estava saindo de dentro de si.
Nesse instante uma lágrima de felicidade rolou em meu rosto ,
por saber que o lindo
sonho de amor
que sonhei estava nascendo
naquele instante,
para o meu mundo tornar-se belo.
Nesse instante,
passei a viver como se estivesse vivendo um sonho encantado,
parecia que
estava flutuando sem sair do chão,
pois tudo era belo,
suave e leve.
As vezes pensava...
Se for um sonho não quero acordar nunca mais .
O meu coração,
ficou cheio de ternura e amor,
porque passei a viver o amor em
sua plenitude de amar.
Ah!!!
Como era belo esse amor
que estava vivendo.
Mas,
na vida tudo tem
começo e fim,
então você chegou disse-me adeus,
partiu.
Nesse instante...
Uma nova lágrima rolou em meu rosto.
Uma lágrima,
com um misto de dor,
saudade e alegria
por ter conhecido e vivido o amor,
em sua plenitude de amar.

As Meninas

                                                                                          
 Lorena Vaz Leme divaga em seu quarto dourado e rosa - com cozinha, geladeira, banheira etc - no pensionato Nossa Senhora de Fátima: pensa na amiga Lia de Melo Schultz, que tem pretensões a escritora e é militante política; no gato Astronauta, que cresceu e abandonou-a; em Che Guevara, que foi líder de toda uma geração; em M.N., homem misterioso que lhe desperta desejos eróticos, em Jesus Cristo, a quem dedica a música de Jimi Hendrix; e na morte desse roqueiro e de Rômulo, seu irmãozinho querido. Lia aparece para pedir-lhe o carro de "mãezinha" emprestado, e enquanto tomam o chá especial de Lorena, conversam e divagam sobre tolices e sobres coisas sérias, concomitantemente a greve na faculdade; a prisão de Miguel, namorado de Lia e militante político também; na alienação da burguesia acomodada; na repressão militar, nos amigos que estão presos e sendo torturados. Lorena lembra a morte traumática de Rômulo e sua agonia nos braços da mãe, vitimado por um tiro acidental dado pelo outro irmão, Remo. Da fuga deste para o exterior através da Diplomacia, dos freqüentes presentes que ele envia a ela (sinos, lenços, roupas, comida...). 
 Mistura a esses pensamentos a figura do médico Marcus Nemésios (o M.N.), casado e bem mais velho, de quem ela sonha receber amor, carinho e proteção (aliás, passa o livro todo aguardando um telefonema dele, que nunca se concretiza); evoca ainda a figura de Ana Clara, suas origens "suspeitas", no excesso de tranqüilizantes que consome; pensa na própria adolescência, ao piano, no gostoso convívio familiar, nos banhos de banheira, na decisão de morar no pensionato, no aluguel e decoração do quarto por Mieux, o atual namorado da mãe. Lia fala sobre o livro que escrevera e acabara por rasgar.
Criticam Ana Clara e o namorado Max, traficante que a viciou em drogas, e o provável e desconhecido noivo rico com quem ela pretende se casar para "sair do buraco", após plástica restauradora da virgindade, "bancada" por Lorena. Lia pede várias vezes o carro emprestado, e um pouco de "oriehnid" (dinheiro "ao contrário", para dar sorte) para o "aparelho"(= grupo de resistência à ditadura militar). 
Apesar de temer envolvimentos com o grupo e suas conseqüências, Lorena é incapaz de dizer "não" aos pedidos da(s) amiga(s).

         



                                                                                           
 Ana Clara e Max drogam-se na cama e deliram. Ela sente-se travada, bloqueada, apesar das sessões de terapia - ela odeia o analista. Acha-se bonita (modelo, 1,77 m) e carente - a mãe, prostituta, nunca lhe deu atenção. Lembra-se do Dr. Algodãozinho, que deixava seus dentes apodrecerem para abusar sexualmente dela e da mãe, em sua cadeira de dentista. Pensa no quanto ama Max, mas que em janeiro casa-se com o noivo rico e resolve seus problemas. Sente ódio de Deus - e de negros. Resgata a infância carente, repleta de ruídos (ratos, baratas) e cheiros, nos prédios em construção, onde vivia com a mãe e os sucessivos amantes. Também evoca detalhes da vida das amigas Lia e Lorena. Max também delira. Reza. Teve educação esmerada (fala francês, é fino) mas empobreceu e tornou-se traficante. Tem uma irmã que sumiu com as jóias da família e encontra-se internada em sanatório. Ana e Max se amam, mas seu relacionamento é difícil e complicado.
                                                                            


 Lorena reflete sobre a violência do mundo; assaltos a bancos; a morte de Rômulo; a profissão de Remo propiciando sua "fuga" para o exterior. Gostaria de poder alienar-se da "máquina desse mundo" violento (intertextualidade com o texto A Máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade), como uma ostra dentro de sua concha dourada (= seu quarto - refúgio). Rememora a chegada de Lia e Ana Clara e a "invasão" das duas à sua privacidade, a amizade das três, apesar das personalidades opostas. Miúda e magra, mostra certa inveja da beleza de Ana Clara, apesar da diferença cultural... Através da visão de Lorena, conhecemos um pouco mais sobre as duas amigas: Lia de Melo Schultz tem um "pé" baiano, da mãe Diú (D. Dionísia) e outro berlinense, do pai seu Pô (Herr Paul, ex-oficial nazista). Herdou do pai o vigor germânico; da mãe, as "proporções gloriosas e a cabeleira de sol negro" e o açúcar da voz. É uma "mulher-hino", enquanto Lorena vê-se como uma civilizada, requintada "balada medieval" (ou "Magnólia desmaiada", para os colegas da Faculdade de Direito). Ana Clara "arrombou" a privacidade de Lorena, obrigando-a a verdadeiros exercícios de caridade cristã: mexe em tudo, nos livros, nos objetos pessoais. Tem olhos verdes, é modelo, linda, mas "de cuca embrulhada", deprimida e deprimente, juntadíssima, afetadíssima, mentirosíssima - "ni ange ni bête" - (nem anjo, nem demônio). Envolvida com sexo e drogas. Enquanto lancha ao sol, Lorena recorda o aborto de Aninha, resgatando a fábula da formiga e da cigarra (inconsciente, bagunceira, irresponsável), com quem compara a amiga. Recebe carta de Remo e pensa na morte de Rômulo. Filosofa sobre o lado omisso das relações humanas. Sonha em casar-se com M.N., pois sente-se frágil, insegura, precisando de um homem em tempo integral. Ao voltar para o quarto, pensa no colega Fabrízio, na noite chuvosa em que ele veio estudar mas preferiu envolvê-la nos braços, ameaçando sua virgindade; na falta de luz e subseqüente chegada de Lia, estragando o momento mágico com suas alpargatas molhadas e suas pesquisas sobre a vida das prostitutas, sua obsessão por Miguel. Lia sai, mas chega Ana Clara, e "se instala". Fim da noite para Fabrízio e Lorena. No dia seguinte, conheceu o Dr. M.N. na sua Faculdade e ganhou carona. Passa a viver aguardando seu telefonema, fantasiando um amor edipiano.

                                                                   

                               
Max delira na cama. Gosta de Chopin, de Renoir. Conversa com a Coelha (Ana Clara) sobre a riqueza passada, as viagens. Ana compara os diferentes níveis de artistas abstratos e reclama de estar lúcida - teria tomado aspirina? Lembra o passado de miséria e sonha com o futuro promissor como psicóloga de ricaços - Nessa cidade as pessoas não se preocupam mais com nome, mas com o saco de ouro (de que adianta o nome Vaz Leme de Lorena, descendente de bandeirantes?). Quer esquecer a mãe, os amantes, Jorge, Aldo, Sérgio... e o suicídio com formicida. Lembra-se da amiga Adriana, feia e vesga, mas com casa na praia, onde Ana Clara tentou lavar a memória do passado num banho de mar. Max desperta e os dois deliram juntos. Ela está grávida e quer abortar. Ele deseja o filho, cuja voz diz ter ouvido. Vão ficar ricos e fazer cruzeiros pelo mundo. Ela é a gata borralheira, que tem encontro marcado com o noivo, que já deve estar inquieto com o atraso.
            
                                                                                          

  Lorena aguarda o telefonema de M.N., como sempre. Pensa em arte, em literatura (Dante, Beatriz), em música (jazz), em cheiros (incenso); em morte (Rômulo); na mãe e no carro (teme que Lia seja metralhada dentro dele). Gostaria de poder sair de moto com Fabrízio, um cinema, um jantar... mas acha que ele deve estar na faculdade, incitando a greve e namorando uma poetazinha que resolveu seduzi-lo. Recebe a visita da irmã Bula e desconfia que esta é a autora das cartas anônimas, que falam coisas horríveis sobre as meninas e as freiras, para Madre Alix, a superiora. Enquanto serve licor e biscoito para a freira, relembra a morte de Rômulo, as manchetes nos jornais; pensa em Lia, em Simone de Beauvoir (escritora francesa), em segundo e terceiro sexos, em M.N., em Che Guevara, em morrer e renascer (segundo S. Marcos, "é necessário nascer de novo"). Recupera a teoria da amiga "terrorista" sobre a perda de pureza do baiano e do índio, e cita Gonçalves Dias. Coloca um Noturno de Chopin e serve constantemente vinho à freirinha. Quando tampa a garrafa, pensa na ferida de Rômulo, na fuga de Remo. Despede-se da Irmã Bula e de sua velhice sem sentido.

 

                                                                                     
 Na sala imunda e mal iluminada onde montaram o "aparelho", Lia ("Rosa de Luxemburgo") e Pedro começam a separar material para o jornal. Conversam sobre experiências homossexuais; Jango; o nazismo; conceito de santidade; sobre Che Guevara; Martin Luther King (líder negro americano), engajamento político-social, atuação da Igreja progressista, casamento de padres, amor... Sai para uma operação noturna com o Bugre, que lhe conta sobre a próxima deportação de Miguel para a Argélia. De volta ao pensionato, feliz, conversa com Madre Alix: fala de seu amor pela família, do passado com saudade, do presente (fases da vida!...); de Ana Clara, Max e seu envolvimento com drogas; na sua pretensa vocação para escritora; na desilusão com Miguel (muito cerebral) e Lorena (muito sofisticada). Madre Alix quer ajudá-las, mas sente-se impotente e teme por seu futuro. Sugere uma epígrafe para o livro de Lia e que serve para a vida das duas: Sai da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai e vem para a terra que eu te mostrarei(Gênesis).

                                                                                 
Irmã Clotilde leva frutas para Lorena, que se exercita na bicicleta. Falam sobre as duas Santas Teresas; sobre Tolstói; sobre homossexualismo (comenta-se no pensionato que I. Clotilde é lésbica); sobre beleza, ideais, filosofias de vida. A freira vai lavar as mãos e volta criticando a cor, a saúde e a alimentação das três amigas. Lorena anseia por beleza e um telefonema... Quer ficar só, mas a freira se demora na visita e no exame do quarto, dos animais, dos livros da moça. Esta lê um pedaço de um livro de Direito, cita frases em latim, enquanto pensa sobre o lado oculto das pessoas: a vida é um jogo de espelhos, e Lorena tem sede de autenticidade... Lia chega, a freira se vai. Devolve a chave do carro, conta sobre a viagem à Argélia, brinca de entrevistar Lorena (os assuntos de sempre: virgindade, casamento, M.N., Fabrízio, Pedro) e diz que esta é edipiana. Ambas mostram-se preocupadas com a gravidez de Ana "Turva" e sua dependência. Divertem-se no jardim e despedem-se no portão. Lia pede roupas para os "revolucionários". Lorena fica pensando na iniciação sexual das amigas e imagina como será sua "primeira vez" (M.N. é ginecologista, um "gentleman").


                                                                                                
Ana Clara e Max acordam e conversam: ele e Lorena são "aristocratas", têm álbum de retratos... Os de Lorena estão na garagem do pensionato. Criticam o amante jovem de "mãezinha", Mieux. Max vai até a geladeira, come e volta a dormir. Ana pensa na desculpa que vai inventar para o noivo aceitar seus sumiço. Arruma-se e sai. Chove. São quase 11 horas da noite. Não consegue táxi e aceita carona de um industrial em um Mercedes. Foge dele e refugia-se em um bar, onde encontra um velhote estranho que a convida para seu apartamento. Confundindo-o com "um pai" que nunca teve, segue-o. Apartamento de boêmio - retratos na parede, vitrola de corda, discos de tangos. Ana deita-se na cama e dorme, enquanto ele lê para ela textos sobre Napoleão, Rodolfo Valentino e tem orgasmo. Diz que o platonismo amoroso é a forma mais sutil e temível da paixão infinita e insaciável.

                                                                                           
 Na banheira, Lorena filosofa sobre "ser" ou "estar" no mundo - na desintegração do ser humano na cidade grande, no papel do filósofo, do advogado, do médico, do psiquiatra. Sente todos os sintomas de todas as doenças mentais, apesar de charmosa e inteligente. Lembra-se da fazenda, das procissões em que se vestia de anjo. Rememora o primeiro encontro com M.N. e imagina as reações de mãezinha quando lhe contar sobre ele. Sai do banho emocionada e veste um robe. Chega o colega Guga, que lhe conta ter abandonado a família, a escola e estar vivendo em um porão, numa comunidade. Escandalizada com sua sujeira, Lorena corta-lhe as unhas, alerta-o sobre promiscuidade e lê para ele uma carta de M.N. Guga se excita e tenta amá-la. Ela quase cede, mas reage e ele se vai. Chega Lia. Conversam sobre filosofia, Lacan, auto-identificação, transferência de afetos. Lia quer provar que M.N. está mais para pai que para namorado, mas Lorena não admite. Falam sobre o telefonema de Herr Pô e da promessa de ajuda em dinheiro para a viagem. Lorena entrega a Lia um cheque em branco e pede-lhe para usar uma cruz na corrente, enquanto filosofa sobre Deus, religião, fé. Lia sai rindo. Lorena faz caretas.


                                                                                           
 Lia pega carona com o motorista de mãezinha de Lorena e vai visitá-la. No caminho, consegue fundir a cabeça do senhor com seu discurso sobre família e liberdade. Recebida no hall pelo mordomo, fuma, examina os objetos e tapetes luxuosos, enquanto imagina sua viagem, a desunião da esquerda; vê-se na Argélia escrevendo seu diário e exaltando a Pátria. Mãezinha chora, na cama, a morte do psiquiatra Dr. Francis. Desajeitada, Lia tenta consolá-la e ouve suas lamúrias sobre a diferença de idade entre ela e Mieux, a impossibilidade de acompanhá-lo em seus programas, a dificuldade em aceitar a velhice e a morte. Lia lembra-se de sua família (tão equilibrada!) com saudade e amor. Mãezinha pergunta sobre os namoros de Lorena e Lia (acha-a masculinizada) e quer trazer a filha de volta à casa. Conta uma versão totalmente diferente sobre a morte de Rômulo (falência cardíaca, ainda bebê). Lia sente-se nauseada e pensa em ver o álbum de fotos na garagem: acha que mãezinha está escamoteando a tragédia por auto-defesa. Ganha roupas e mala para a viagem.


                                                                                        
 Tarde da noite. Ana Clara chega transtornada ao quarto de Lorena, que está estudando para a prova no dia seguinte (a greve terminara). Entra arrastada, gritando de dor no peito e imunda. Lorena coloca-a na banheira - seu corpo está cheio de nódoas roxas e sofre alucinações com formigas, baratas, Deus e Max. Pede uísque e a bolsa. Delira. Lorena pensa no abismo entre o ser e o estar, num futuro feliz no campo, fora de sua casca. As novelas da vizinhança encobrem os ruídos e finalmente Ana Clara adormece. Lorena toma chá. Finalmente Lia chega para preparar as malas (a viagem será na manhã seguinte) e Lorena vai até seu quarto. Conversam muito - sabem que estão se despedindo - e Lia conta-lhe que Guga virá procurá-la. Não vêem futuro na relação com M.N., que jamais abandonará a família, pois a dor do remorso dói mais que a dor física (Tolstói). Ao voltar para o quarto, Lorena tem um choque: Ana Clara está morta.



                                                                                     
 Lia corre aos acenos da amiga. Ao entrar, encontra Lorena massageando o peito de Ana Clara, tentando revivê-la, enquanto reza. Lia pensa em chamar o pronto-socorro, em acordar todo mundo, em que poderia ter feito mais pela amiga, além dos "discursos". A bolsa de Ana Clara está aberta: talvez dali ela tirara a própria morte. Lorena tem idéias e age: encomenda o corpo, reza em latim, veste e pinta Ana Clara como se esta fosse a uma festa. Elimina todas as pista comprometedoras para Aninha e Max, além das freiras do pensionato. As duas amigas carregam Ana Clara através da noite providencialmente nebulosa e abandonam o corpo em um banco em uma linda praça do bairro. Voltam para o pensionato e separam-se: cada uma vai viver a própria vida. Lia no exílio. Lorena de volta para a casa de mãezinha, deixando sua concha para a futura hóspede, que vem do Pará.



                                 ( Lygia F. Telles)

Esperança; Vida; Sonho.



                           A aceitação faz-me dizer “sim” a uma realidade percebida,
                                     num primeiro tempo, como negativa,
                               porque ela faz despertar em mim o pressentimento
                                    de que algo de positivo pode vir a despontar.
                                               Há nela, por conseguinte,
                                           uma perspectiva de esperança.

'Quardar e doer ou quardar pra não doer?!

"Alguma coisa sempre faz falta.
Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."


    (Caio F. Abreu)

SIM !

Estranho, sim.
As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas diante dos apaixonados.
Aproximam-se deles, dizem coisas amáveis, mas guardam certa distância, não invadem o casulo imantado que envolve os amantes e que pode explodir como um terreno minado, muita cautela ao pisar nesse terreno. Com sua disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentes e o ser diferente é excluído porque virar desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais frágeis, ao mesmo tempo os protege como uma armadura. Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso, provaram da Árvore do Conhecimento e agora sabem.

(Lygia Facundes Telles)

Nirvana de Bayer


“A verdade é que não há nem haverá ninguém em volta, que perceba os fatos ocorridos, ali, naquele silencioso fundo de sala de aula...”.
I
E ela, a deseja de tal forma, que não há, até hoje explicação de ambos os lados, nem se quer motivo para tanto desejo, como muitos outros, proibido...
O sangue ferve, as mãos soam, a pupila dilata? “Descreva as sensações que se passam em teu ser quando se aproxima de mim”. Essa era a maior vontade de Susan, saber o que se passava na cabeça de Marie.
No entanto sua curiosidade partia de um sentimento, um sentimento novo para ela, e não saberia decidir nada enquanto as dúvidas e incertezas desse sentimento rondassem sua mente confusa. Susan também se sentia atraída por Marie, de uma maneira tão forte e visceral, que a assustava. E em uma de suas declarações, disfarçadas pela amizade das duas, Susan declara estar também apaixonada por Marie...
II
Indecisão?! Sim! Talvez... Ninguém saberia, nem mesmo Susan.
- Não consigo controlar o que eu estou sentindo, queria ao menos entender, é tudo tão novo. Eu gosto de me sentir desejada, ainda mais por você, mas, e o “politicamente correto” que nos ensinaram, que há alguns meses atrás me caíra tão bem? Eu não sei, Marie. Estou confusa (...)
- (...) Quero muito, e você está me fazendo querer esse nosso caso proibido mais que tudo, me faz desejar suas mãos deslizando minhas curvas, suas mordiscadas ao pé da minha orelha, os sussurros poéticos enquanto você me beija, suas mãos delicadas enroscadas em meu pescoço fazendo arrepiar meu corpo todo, suas mãos salientes subindo e descendo toda a minha essência procurando “algo mais”...
 III
As duas, moças belíssimas, Susan, uma morena clara típica, olhos castanhos sedutores, cabelos cacheados, definidos, os mais belos já vistos, Marie por sua vez, tinha a pele clara, baixa estatura, cabelos ruivos, lisos, era bem mais masculina que Susan... Susan com um pouco menos que 17 anos e a Marie com um pouco mais...
Chegara a hora das duas darem espaço ao desejo que sentiam. Pelos seus rostos quando tudo acabou, havia sido indescritível a sensação de ambas...
Era manhã de quarta feira, dia ensolarado, durando apenas alguns minutos, Marie, por sua vez, queria mais, bem mais que apenas aquilo, Susan a freiou, como faz até hoje...
Mas, Marie sabia que isso não queria dizer que Susan não estava apta, só era um mundo novo para ela. No entanto, Marie, queria apenas proporcionar prazer à Susan, isto é, queria Susan, apenas isso, parecia tão pouco, não?
IV
Manhã seguinte... As duas trocaram olhares, apenas isso, como se nada houvesse acontecido, acontecendo... Sempre disfarçando qualquer comentário dos amigos sobre sua repentina aproximação, conversando naturalmente como duas boas amigas, nada mais que isso. Retornando à sala de aula, as duas sentaram no fundo, em cadeiras bem próximas e sem ninguém muito perto, parecia que o lugar as esperava... E lá, na sombra do ar-condicionado, as duas começam mais uma vez a se acariciar por debaixo das carteiras... E mais uma vez, as pessoas soberbas de uma inocência, uma cegueira tamanha que não notaram as duas...
Susan confessa a um colega estar confusa em relação a todo aquele desejo destinado à Marie. Susan tinha um namorado, o que ela vira em Marie? Seus olhos azuis esverdeados penetrantes que a faziam pensar que nada mais era segredo entre as duas? Os traços finos e hostis de Marie? Ou era apenas a sensação de viver um romance aparentemente proibido? Essas perguntas embaralhavam a mente de Susan cada vez mais. Outro dia, depois de uma reflexão sobre os seus relacionamentos, Susan decidi terminar com o namorado, alegando ter se cansado do mesmo, com medo de dizer a verdade, acho...
Marie, por sua vez, se encontrava num daqueles relapsos momentâneos de tristeza profunda, quando se fica dependente de álcool e fumo. Acabara de sair de um relacionamento sério, que durara anos à fio, e se achava confusa, Susan ainda mexia muito com ela, tinha certeza do que queria, queria Susan, mas estava confusa com tantos sentimentos, mas sabia que poderia confiar e apostar todas as suas fichas em Susan, que era uma “lésbica diferente”, como ela mesmo dizia...
V
Susan, não queria apegar-se a ninguém naquele momento, também pensava que Marie não sentia o mesmo que ela, e quando dizia estar apaixonada, só queria a iludir...
A verdade, é que as duas apaixonaram-se desde o primeiro olhar, desde o início do ano letivo, quando, por coincidência, ficaram na mesma sala...
O cerco, digamos assim, se fechava cada vez mais... Para Susan, para Marie. Ambas contavam as horas para os fins de semana e feriados terminarem logo, para que pudessem se ver de novo, se amar no fundo da sala de aula... A seriedade do relacionamento das duas estava mais do que clara, Marie tinha ciúme possessivo de Susan, que por sua vez, passara a tratar Marie de “meu amor”.
VI
Susan fala com Marie sobre o término de seu namoro...
- Você ainda o ama, não é?
- Sim, acho que ninguém nunca vai substitui-lo, Marie, me desculpe.
- Eu não me importo, vem cá, me deixa te fazer mulher de verdade, só hoje...
- Não, Marie! Não posso, só transava com ele desde a minha primeira vez.
- Ah, é? E por quê?
- Talvez por que ele fosse meu namorado, não é? Ou talvez por que eu o amava... É difícil dizer.
- O “amava”? Não disse ainda agora que o ama?
- Já não sei, Marie, como já lhe disse, estou confusa, é tudo muito novo para mim...
- Está bem, esqueçamos isso. Venha aqui, me beija, me beija forte.
IIV
E as duas se consumiram, em abraços, beijos, carícias... A hora que Marie tanto desejou, chegara. As mãos suavam, o coração batia tanto que dava a impressão de que pararia a qualquer momento, os dedos salientes de Marie, enfim cruzaram todas as curvas e saliências de Susan, que gemia de prazer, de felicitação, de desejo...
Lábios, caras e bocas, mordidas leves em todo o corpo, aquela sensação que Susan sentira havia sido única, indescritível, inesquecível.
POR FIM...
Essa fora a melhor experiência de todo a existência de ambas, cansadas e com um sorriso bobo no rosto, típico de apaixonados...
- Fui melhor que seu namorado, Susan?
- Sim, bem melhor, Marie. É tão, inexplicável, mas, você conhece aquele aperto no peito que dá quando a gente pensa no ser amado partindo? E quando você for embora? Quando não nos virmos, vai ser a mesma coisa? E as pessoas? Como vai ser daqui para frente? Vamos à frente?
- O futuro nos pertence, Susan...
- Então esquece isso, esquece o medo, a indecisão. Vamos viver, vem ser minha, Marie. Agora, me deixa descansar, meu amor... (Susan deita no colo de Marie)
- E -u - t - e - te - a – amo, Susan...
(...)
E até ontem mesmo, as duas estavam bem. Marie, ainda estava confusa com seus relacionamentos, Susan, voltou com o namorado, e elas continuam a se encontrar, a se amarem ao fundo da sala de aula, e a fingir serem boas amigas para todos...
Hilário, não?